Atualmente, se procurarmos por
uma definição de adolescência no dicionário, encontramos o seguinte: “Quadra da
vida entre os primeiros assomos da puberdade e o termo do completo
desenvolvimento do corpo”. Ou seja, encontramos uma definição muito ligada a
fatores biológicos. Porém, apesar de adolescência ter estado muito ligada a
aspetos biológicos durante vários séculos, atualmente também possui
significados sociológicos, psicológicos e cronológicos. Ou seja:
- Cronologicamente,
a adolescência vai aproximadamente dos 12 ou 13 anos até aos 22 ou 24 anos (nas
culturas ocidentais; o aspeto cronológico está muito relacionado com a
sociedade e cultura em que o indivíduo está inserido)
-
Sociologicamente, este é o período em que o sujeito transita de um estado de
dependência para um de autonomia, de forma progressiva, alcançando a posse de
funções e características típicas dos adultos
-
Psicologicamente, é a fase de identidade do “eu”, muito sensível e que pode
acarretar algumas consequências para o indivíduo e/ou a sociedade
Observamos
assim que a adolescência é um conceito muito mais amplo atualmente, incluindo
mudanças consideráveis nas estruturas da personalidade e no papel que o
indivíduo exerce na sociedade. O indivíduo procura ajustar-se e encaixar na
sociedade, através da luta pela independência (não só financeira, mas também
emocional), pela escolha de uma vocação e mesmo pela definição da sua
identidade sexual, algo que pode ser problemático, se tivermos em conta que
alguém que não se insira nos padrões definidos pela sociedade para rapaz e
rapariga pode ser mal visto, ou mesmo considerado um problema.
Todos
os fatores referidos anteriormente não se encontram isolados, sendo algo
complexo e por isso em constante relação e interdependência. A partir daí,
compreende-se como os fatores sociais e psicológicos se alteram, graças a
rituais de passagem, típicos das sociedades menos desenvolvidas e que acontecem
sobretudo com os membros do sexo masculino, que fazem com que a adolescência
seja um período curto. Não pretendemos com isto afirmar que a adolescência das
sociedades mais desenvolvidas (sobretudo as das sociedades ocidentais) seja
melhor, pois a falta de rituais de passagem torna esta fase da vida numa fase
com muitas incertezas e dúvidas, tornando-se também num período mais longo. Ou
seja, o término da adolescência está intimamente relacionado com o contexto
sociocultural do indivíduo. Poderá considerar-se que um indivíduo passou a fase
da adolescência quando este se ajustou aos padrões da sociedade relativamente
aos adultos.
Uma
das grandes caraterísticas da adolescência nas sociedades ocidentais é a
constante luta entre o adolescente e o seu mundo (pais, escola, sociedade), na
medida em que a sociedade vê o adolescente com alguém irresponsável, fora dos
padrões da sociedade e mesmo rebelde. O adolescente acaba por refletir, de
alguma maneira, essa imagem da sociedade, sendo possível afirmar mesmo que a
própria sociedade também acaba por encorajar um pouco essa imagem (por exemplo,
em Portugal, através de séries destinadas a adolescentes, como a série
“Morangos com Açúcar”).
Piaget
refere ainda que a adolescência é o período dos grandes sonhos e aspirações,
mesmo que não estejam de acordo com a realidade. Todavia, à medida que o
indivíduo amadurece de forma normal e natural, vai aprendendo a discriminar
entre o possível e o desejável.
Em
termos psicossociais, fundamentalmente a adolescência é um período de
transição. Quem se encontra nesta fase da vida já não é criança, mas ainda não
é adulto, sendo que isto poderá gerar confusão no adolescente e dificuldade em
perceber qual o seu papel e a sua função na sociedade, onde ele encaixa. Esta
confusão desaparecerá à medida que o adolescente define a sua identidade psicológica.
Finalmente,
a adolescência é um período com muitas mudanças significativas. Hurlock
refere-nos 4 que possuem forte impacto:
-
Aumento da intensidade emocional, proporcional à rapidez com que as alterações
físicas e psicológicas se processam
-
Amadurecimento sexual, muito conectado a insegurança do adolescente em relação
a si próprio, às suas aptidões e interesses, sentindo nesta fase muita
instabilidade. Poderá ser normal, devido ao amadurecimento sexual, que nas
aulas de Educação Física ninguém se queira voluntariar para executar
determinada tarefa, por não confiar nas suas aptidões e assim ter medo de ficar
mal visto pelos seus colegas
-
Mudanças corporais, nos interesses e funções sociais, que poderão produzir
alguns problemas, pois o adolescente não sabe o que o grupo espera dele
-
Alterações no sistema de valores, na medida em que assuntos que antes o
adolescente considerava importantes já não o são. Além disso, graças ao seu
desenvolvimento intelectual, poderá agora avaliar a questionar o seu mundo, e
particularmente o sistema de valores a que foi exposto e que antes aceitava e
obedecia de forma automática e sem nenhuma questionação. Provavelmente será na
adolescência que o indivíduo definirá o seu sistema de valores, os seus
princípios morais.
Mudanças fisiológicas
A
adolescência fica fortemente marcada por mudanças fisiológicas (e que irão
estar relacionadas com todas as outras) em grande número e intensidade num
curto espaço de tempo nos órgãos genitais e em todo o organismo, aproximadamente
dos 12 aos 15 anos nas raparigas e dos 13 aos 16 nos rapazes. As mudanças
podem-se distinguir entre:
-
Relacionadas com o sistema reprodutor, como por exemplo aparecimento da
primeira menstruação nas raparigas (menarca) e possibilidade de libertação de
esperma nos rapazes (ejaculação)
-
Não relacionadas com o sistema reprodutor, ou seja, o desenvolvimento dos
caracteres sexuais secundários (mudanças físicas não relacionadas com a
reprodução, que distinguem homens de mulheres)
Relativamente
aos rapazes, os seus testículos, por volta dos 14 anos, terão apenas 10% do
tamanho normal em adulto, sendo que por um ou dois anos ocorrerá um rápido
desenvolvimento dos mesmos, estando completamente desenvolvidos aproximadamente
aos 20-21 anos.
Em
relação às raparigas, o seu aparelho reprodutor desenvolve-se durante a
adolescência, mas não de forma brusca. Enquanto o útero de uma menina de 11/12
anos pesa, em média, 43 gramas, os restantes órgãos – trompas, ovários, vaginas
– crescem rapidamente.
Normalmente,
este rápido crescimento leva a uma falta de coordenação motora, que origina a
que a criança se possa tornar desajeitada, tímida e com receio de ficar mal
vista pelos outros. Com a definição e consolidação da identidade do indivíduo,
estes problemas serão solucionados.
Problemas específicos
dos rapazes e raparigas e as aulas de Educação Física
Se
as mudanças inerentes à adolescência não ocorrerem no modo e no tempo esperado,
poderão ter algumas consequências.
Nas
raparigas, alguns dos problemas específicos mais frequentes são o aparecimento
da menarca muito cedo, visto que raparigas com menstruação precoce podem não
estar psicologicamente preparadas, devido à pressão da mudança, e o pequeno
desenvolvimento dos seios, que pode causar alguns traumas, pois os seios podem
simbolizar a sexualidade e a entrada na idade adulta.
Já
nos rapazes, os problemas estão ligados a uma maturação tardia, que normalmente
implica que esses rapazes sejam mais baixos, mais fracos e piores atletas, e o
pequeno desenvolvimento do pénis, que pode levar à ridicularização do rapaz,
sendo mesmo a sua masculinidade posta em causa.
A
maturação precoce e tardia pode levar a diferenças de personalidade, dependendo
sobretudo da forma como ela é vista pelo mundo que rodeia o adolescente. Se a
maturação precoce ou tardia for considerada como uma caraterística negativa,
provavelmente o adolescente será lesado de forma negativa.
Como
normalmente os rapazes com maturação precoce são mais confiantes, em parte
porque quem os rodeia considera-os mais adultos que os rapazes com maturação
tardia, deve-se dar algum apoio especial a estes últimos, tal como às raparigas
com maturação precoce ou com seios pouco desenvolvidos.
Compete
também aos professores apoiarem os alunos e conseguirem que eles se preocupem
menos com o seu crescimento físico, emocional e sexual. Existe uma disciplina
em particular onde o professor deve ser muito competente: Educação Física. Nas
aulas de Educação Física (e no treino, se ultrapassarmos o âmbito estritamente
escolar), há possibilidade de alguns rapazes ou raparigas se sentirem
inferiores a outros ou outras, sobretudo no balneário, onde tomam banho
juntos/juntas e se podem comparar, de modo a verificar se são normais ou não.
Os professores de Ed. Física e treinadores devem tentar aperceber-se de alguns
casos e tentar dar algum conselho ao seu aluno/atleta, sobretudo porque os
pais, ao contrário da infância, passam para um papel secundário, e os
professores/treinadores podem ter grande importância, dependendo do seu relacionamento
com o aluno/atleta. Frequentemente no balneário, quando os adolescentes se
comparam, podem ter sérios problemas se considerarem que não são normais, pois
normalmente ou se comparam com colegas da mesma turma depois das aulas de
Educação Física, ou se comparam com colegas da mesma equipa, sendo que ambos
normalmente fazem parte do grupo de amigos/amigas importantes para o
adolescente. Assim, é de fundamental importância o professor de Ed. Física ou
treinador tentar aperceber-se destes problemas e dar o conselho mais adequado
possível.
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