sexta-feira, 25 de maio de 2012

Desenvolvimento Moral

É de extrema importância o raciocínio moral de jovens e adultos no mundo atual, pois é fundamental haver uma noção consensual da sociedade do que é correto e errado. O modo como o pensamento moral se desenvolve ao longo da idade é objeto de grande interesse e estudo na Psicologia do Desenvolvimento. Um dos objetivos dos pais na educação de um filho será sempre que ele não execute comportamentos que moralmente não são considerados adequados no seu contexto (familia, sociedade, etc). Neste ambito salientam-se os estudos de Piaget, com dois estádios de desenvolvimento moral, e de Kohlberg, com três niveis de desenvolvimento moral, cada um possuindo dois estádios.

Kohlberg definiu os estádios através de um estudo realizado a crianças e jovens de várias culturas e diversas religiões, zonas de habitação (urbanas e rurais), entre outros aspetos . Apresentava um dilema moral a cada criança e jovem, e com base nas respostas destas, fez um padrão de estádios de desenvolvimento moral, onde enquadrava cada um dos sujeitos do estudo.
O dilema moral apresentado aos inquiridos não era um dilema que normalmente se apresentava a crianças e jovens, onde normalmente existia um bom da fita e um mau da fita. Não havia respostas corretas nestes dilemas, sendo que Kohlberg pedia uma resposta a quem apresentava o problema sem nenhuma opção satisfatória, e o indivíduo teria que justificar a sua resposta.
Alguns dos dilemas de Kohlberg tornaram-se conhecidos, como foram os dilemas de Heinz e o dilema que apresentamos de seguida:
Dois jovens irmãos estavam em sérios problemas. Eles iam sair da cidade secretamente e precisavam de dinheiro. Karl, o mais velho, invadiu uma loja e roubou 1000 dólares. Bob, o mais novo, foi ter com um senhor idoso reformado conhecido por ajudar as pessoas da cidade. Bob disse-lhe que estava muito doente e que precisava de 1000 dólares para pagar uma operação. Bob pediu ao senhor para lhe emprestar o dinheiro e prometeu-lhe que iria pagar de volta quando recuperasse. Na verdade Bob não estava doente, e não tinha nenhuma intenção de pagar o dinheiro de volta. Apesar de o idoso não conhecer Bob muito bem, emprestou-lhe o dinheiro. Assim, Bob e Karl fugiram da cidade, cada um com 1000 dólares.
1 – Qual é pior, roubar como o Karl ou cometer fraude como o Bob?
1.1 - Porque é isso pior?
2 – Qual é que pensas ser a pior coisa em enganar o senhor idoso?
2.1 – Porque é essa a pior coisa?
3 – No geral, deve uma promessa ser mantida?
4 – É importante manter uma promessa com alguém que não conheces bem ou que nunca mais irás ver?
4.1 – Porquê ou porque não?
5 – Porque não deve alguém roubar de uma loja?
6 – Qual é o valor ou a importância dos direitos de propriedade?
7 – Devem as pessoas fazer tudo o que podem para obedecer à lei?
7.1 – Porquê ou porque não?
8 – Estava o idoso a ser irresponsável ao emprestar o dinheiro a Bob?
8.1 – Porquê ou porque não?

Utilizando esses dilemas, Kohlberg criou uma teoria segundo à qual o desenvolvimento moral se desenvolvia através de uma sequência de 3 níveis, cada um deles subdividido em dois estádios. Note-se que cada estádio representa mais que uma decisão moral correta, isto é, revela uma forma de raciocino moral.

Nível  I: Moralidade pré – convencional
Nível correspondente a crianças até aos 9 anos, bem como alguns adolescentes e grande número de delinquentes.
O individuo nesta fase raciocina em relação a si mesmo e ainda não apreendeu totalmente as regras e expectativas sociais, sendo estas completamente externas ao sujeito. A criança ajusta-se às regras impostas pelas figuras de autoridade para evitar a punição ou para obter recompensas pessoais.

Estádio 1 – Moralidade Heterónima: A criança, neste estádio, adopta um ponto de vista egocêntrico. Para ela, o que está correto é obedecer cegamente às regras e à autoridade, de forma a evitar o castigo. As razões para fazer o que está certo é evitar a punição e os castigos.

Estádio 2- Individualismo, Propósito e Troca instrumental : Existe uma tendência para o egoísmo. Para a criança, o que está certo é a satisfação das nossas necessidades e interesses. Nesta fase, a criança reconhece que os outros também têm interesses. Ela entende que só se devem fazer as coisas aos outros se os outros retribuírem o favor – reciprocidade pragmática.


Nível II : Moralidade Convencional
Nível correspondente à adolescência. Note-se que a maior parte das pessoas fica aqui, não avança mais.
O sujeito considera correto aquilo que está conforme e que respeita as regras, as expectativas da sociedade. Reconhece-se com as pessoas que garantem as normas e esforçam-se por cumprir as regras estabelecidas por outros, de forma a obter louvor e reconhecimento pelo seu comportamento correcto.

Estádio 3 – Expectativas e relações interpessoais mútuas e conformidade interpessoal: Neste estádio, o sujeito tem em conta o que os outros pensam ou sentem. O adolescente apresenta gratidão e apreço pelas autoridades e procura ser digno dessa confiança, respeitando –as e reconhecendo a importância da reciprocidade e tratando bem os outros porque espera que os outros também o tratem bem. Viver de acordo com aquilo que os outros crêem de nós e fazer aquilo que os outros supõem que nós façamos, é o que está correto.

Estádio 4 – Sistema e consciência social, manutenção da lei e da ordem
Fazer o seu dever na sociedade, apoiar a ordem social e manter o bem-estar da sociedade ou do grupo. Cumprir os deveres com os quais se concordou. As leis devem ser apoiadas, excepto em casos extremos em que entram em conflito com outros deveres e direitos sociais estabelecidos. Contribuir para que sociedade, o grupo ou a instituição sejam mantidos.
Manter em funcionamento a instituição em funcionamento como um todos, o auto-respeito ou a consciência compreendida como o cumprimento das obrigações definidas para si próprio.

Nível III: Moralidade pós convencional,
Este nível, alcançável apenas por uma minoria de adultos, já é avançado. Os indivíduos ligam-se a diversos princípios morais, que podem mesmo prevalecer sobre figuras de autoridade, ou mesmo sobre normas e valores da sociedade em que se encontram inseridos. Aliás, o sujeito aceita as regras da sociedade pois normalmente estão implicadas nessas regras alguns princípios morais com os quais o indivíduo concorda. Porém, se houver conflito entre algum seu princípio (os princípios morais corporizam-se e tornam-se individuais) e as normas da sociedade, prevalecerão os princípios morais do sujeito.

Estádio 5 – Contrato social
Os deveres do indivíduo estão definidos por meio de um contrato, como por exemplo uma Constituição. Todos devem respeitar esses contratos, de modo a garantir o bem-estar de todos.
Assim, as atitudes morais devem possuir sempre a finalidade de agradar á maioria ou de elevar o bem-estar da sociedade. Apesar de a lei ganhar em caso de conflito entre esta e o sujeito, admite-se neste estádio que as leis e normas não são algo que se vai verificar para sempre, pois resultaram de reflexão, discussão e consenso de várias pessoas, e devido a algum factor (revolução, passar dos anos, etc.) podem-se alterar. As normas e valores da sociedade integram o contrato social que deve ser aceite livremente por todos, mas sempre respeitado e que defenda o seguinte:
- respeito pelos direitos fundamentais como o direito à vida e o direito à liberdade
- utilização de processos democráticos para alterar as leis e melhorar a sociedade
Este estádio afirma que certos valores e direitos devem ser sempre defendidos em qualquer sociedade, independentemente das suas especificidades.
O mais importante do estádio 5 será que as decisões serão tomadas com base nos interesses da maioria. Caso exista conflito entre as leis ou normas da sociedade ou grupo e os interesses da maioria, a decisão do indivíduo localizado neste estádio será sempre tomada pensando nos interesses da maioria. Esta decisão deriva do fato de que nem sempre os valores de um grupo coincidem com as suas normas ou leis, e desse modo nestas não deverão ser obedecidas.

Estádio 6 – Princípios éticos universais
Este estádio não é “aceite” por todos, pois há quem discorde da inclusão dele, devido ao escasso número de pessoas nele se encontram. O comportamento moral é controlado por um ideal interiorizado, que não depende das reações dos outros, mas que respeita sempre princípios universais (igualdade de direitos, dignidade e justiça).
Indivíduos no estádio 6 são raros, muitas vezes valorizam os seus princípios mais do que a própria vida, muitas vezes são vistos como encarnando o potencial humano máximo. Graças a isso, são frequentemente martirizados pelos estádios mais baixos, envergonhados por verem o potencial humano tão desenvolvido, comparado com os seus próprios níveis de desenvolvimento, só parcialmente desenvolvidos (ex. Mohandas Gandhi, Jesus de Nazareth, Gautamo Buddha). As questões que os regem podem ser: “O que é a justiça para todos?”; “O que é que promoverá a vida, no seu máximo, para todos os seres-vivos?”
Posto isto, podemos dizer que para o estádio 6, o certo é o que obedece aos princípios éticos universais e sempre que respeitam esses princípios, as leis ou os contratos e acordos sociais são válidos. A razão para fazer o que está certo é que a pessoa reconhece a validade dos princípios e procura cumpri-los. 

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Desenvolvimento Psicosocial e Psicossexual

Os 8 estádios de desevolvimento psicosocial criados por Erikson, ao contrário dos 5 estádios de desenvolvimento psicossexual de Freud, enfatizam o aspeto social. Apesar de Erik Erikson ter sido um discipulo de Freud, as diferenças de pensamento entre ambos eram significativas. Enquanto que Freud apenas elaborou estádios que iam da infância à adolescência, Erickson alargou-os para todo o periodo da vida humana. Além disso, este psiquiatra alemão valorizou muito mais as interações entre individuo e meio, afirmando que existe sempre uma interação com o mundo exterior, que se alarga à medida que a pessoa se vai desenvolvendo. Aliás, a propósito deste aspeto, Erikson declarava que quando uma pessoa transitava de um estádio para o seguinte, também as suas relações com o mundo aumentavam (Exemplo: Do primeiro para o segundo estádio, as interações alargam-se, sendo que no primeiro estádio são apenas com os pais e no estádio seguinte podem estender-se até aos irmãos).


Ao contrário de Erikson, Freud elaborou cinco estádios de desenvolvimento psicossexual, tal como foi referido anteriormente. Ao longo de cada um dos estádios psicossexuais, as crianças são auto-eróticas, visto que obtêm prazer erótica aquando da estimulação de uma zona erógena (parte do corpo que, quando estimulada, dá lugar a uma sensação sexual). Cada estádio tende a estar localizado numa determinada zona erógena.



Desenvolvimento Psicossexual:


Estádio Oral: Primeiro estádio do desenvolvimento psicossexual que vai desde o nascimento até aos 18 meses/2 anos. Nesta fase a fonte de satisfação erótica é a boca, ou seja, as suas necessidades e gratificações estão focadas na boca. Inicialmente neste estádio a criança limita-se a mamar no seio na chupeta ou no biberão de forma passiva, e a sua primeira sensação experimentada é na ingestão de alimentos. Não esquecendo que o acto de alimentar não se refere somente ao acto de ingestão da comida mas também as relações humanas e de afecto, nomeadamente com a figura materna.
Numa fase mais avançada deste estádio a criança começa a tirar grande satisfação do seio materno mas também procura agarrar qualquer objecto e mordê-lo, no qual contribuiu o desenvolvimento da dentição. De realçar neste estádio que sendo a mãe uma das únicas fontes de prazer da criança, a atitude básica da mãe para com a criança, vai ser determinante para a atitude básica da criança perante a vida, a personalidade começa-se já desde esta altura e estruturar-se.

Estádio Anal: Este estádio fixa-se sensivelmente entre os dois e os quatro anos. É nesta altura que se começa a desenvolver o controlo muscular ligado à defecação, sendo agradável para a criança a descarga reflexa produzida pela pressão dos músculos. Deste modo, a zona erógena deste estádio é a região anal, sendo que uma das grandes fontes de prazer para a criança será reter ou expulsar fezes. É nesta altura que é preocupação dos pais, que as crianças criem hábitos higiénicos, sendo que, segundo Freud, se essa educação do asseio for demasiado restrita ou demasiado tolerante criam-se problemas, portanto o ideal seria um “meio-termo”, para que exista um desenvolvimento normal da personalidade. Para terminar este estádio, de realçar que existe uma sexualidade auto-erótica e que é uma fase em que a criança é mais autónoma.

Estádio Fálico: Este estádio desenvolve-se entre os três anos e os cinco/seis anos. É neste estádio que a satisfação erótica passa pela zona genital, havendo manipulação e até mesmo exibição desta zona. O prazer da criança está centrado nas zonas genitais e na sua estimulação. É nesta fase que as raparigas e os rapazes descobrem que os seus corpos são diferentes. Nesta fase o papel dos pais torna a ser muito importante, pois se os pais ensinam os filhos, que obtêm prazer ao tocar nos órgãos genitais, que o que eles fazem é vergonhoso, os rapazes podem contrair o medo da castração e as raparigas a “inveja do pénis”. É também ao longo desta fase que aparecem o complexo de Édipo para os rapazes e o complexo de Electra para as raparigas, em que as crianças nutrem uma atenção especial pelo progenitor do sexo oposto e desenvolvem uma relação agressiva com o progenitor do mesmo sexo.

Estádio de Latência: Estádio que se situa a partir os cinco/seis anos de idade até à puberdade. Neste estádio dá-se uma ausência quase total dos desejos sexuais, denominando-se esta falta de pulsões sexuais como amnésia infantil, processo no qual “a criança reprime no inconsciente as experiências fortes do estádio fálico”. Neste estádio a energia psíquica da criança é orienta para o sentido de adquirir competências para a vida em sociedade. Existe uma grande curiosidade intelectual por parte da criança, contribuindo para isso a entrada na escola, querendo ser o melhor da escola, uma “criança-modelo”.

 
Estádio Genital: Estádio da puberdade e da adolescência. Estádio que representa o alvo ideal do desenvolvimento humano. A sexualidade desperta-se novamente e com grande intensidade, sendo isto explicado pela maturação orgânica e impulsos desencadeados pela produção de hormonas sexuais. No entanto este estádio repete um pouco os períodos anteriores, como por exemplo o complexo de Édipo que é revivido pelo adolescente, sendo que desta vez, não em relação ao progenitor do sexo oposto mas sim uma atracção por pessoas do sexo oposto alheias ao universo familiar. A satisfação dos impulsos da líbido é procurada pela prática de actividades sexuais de natureza genital. Após terem resolvido os conflitos dos estádios anteriores os jovens estão preparados para actos ligados à reprodução. Concluindo, sendo este o ultimo estádio do desenvolvimento, neste período não há fixação.