Kohlberg definiu os estádios
através de um estudo realizado a crianças e jovens de várias culturas e
diversas religiões, zonas de habitação (urbanas e rurais), entre outros aspetos
. Apresentava um dilema moral a cada criança e jovem, e com base nas respostas
destas, fez um padrão de estádios de desenvolvimento moral, onde enquadrava
cada um dos sujeitos do estudo.
O dilema moral apresentado aos
inquiridos não era um dilema que normalmente se apresentava a crianças e
jovens, onde normalmente existia um bom da fita e um mau da fita. Não havia
respostas corretas nestes dilemas, sendo que Kohlberg pedia uma resposta a quem
apresentava o problema sem nenhuma opção satisfatória, e o indivíduo teria que
justificar a sua resposta.
Alguns dos dilemas de Kohlberg
tornaram-se conhecidos, como foram os dilemas de Heinz e o dilema que
apresentamos de seguida:
Dois jovens irmãos estavam em sérios problemas. Eles iam sair da cidade
secretamente e precisavam de dinheiro. Karl, o mais velho, invadiu uma loja e
roubou 1000 dólares. Bob, o mais novo, foi ter com um senhor idoso reformado
conhecido por ajudar as pessoas da cidade. Bob disse-lhe que estava muito
doente e que precisava de 1000 dólares para pagar uma operação. Bob pediu ao
senhor para lhe emprestar o dinheiro e prometeu-lhe que iria pagar de volta
quando recuperasse. Na verdade Bob não estava doente, e não tinha nenhuma
intenção de pagar o dinheiro de volta. Apesar de o idoso não conhecer Bob muito
bem, emprestou-lhe o dinheiro. Assim, Bob e Karl fugiram da cidade, cada um com
1000 dólares.
1 – Qual é pior, roubar como o Karl ou cometer fraude como o Bob?
1.1 - Porque é isso pior?
2 – Qual é que pensas ser a pior coisa em enganar o senhor idoso?
2.1 – Porque é essa a pior coisa?
3 – No geral, deve uma promessa ser mantida?
4 – É importante manter uma promessa com alguém que não conheces bem ou
que nunca mais irás ver?
4.1 – Porquê ou porque não?
5 – Porque não deve alguém roubar de uma loja?
6 – Qual é o valor ou a importância dos direitos de propriedade?
7 – Devem as pessoas fazer tudo o que podem para obedecer à lei?
7.1 – Porquê ou porque não?
8 – Estava o idoso a ser irresponsável ao emprestar o dinheiro a Bob?
8.1 – Porquê ou porque não?
Utilizando esses dilemas, Kohlberg criou uma teoria segundo
à qual o desenvolvimento moral se desenvolvia através de uma sequência de 3
níveis, cada
um deles subdividido em dois estádios. Note-se que cada estádio representa mais
que uma decisão moral correta, isto é, revela uma forma de raciocino moral.
Nível I: Moralidade pré – convencional
Nível
correspondente a crianças até aos 9 anos, bem como alguns adolescentes e grande
número de delinquentes.
O
individuo nesta fase raciocina em relação a si mesmo e ainda não apreendeu
totalmente as regras e expectativas sociais, sendo estas completamente externas
ao sujeito. A criança ajusta-se às regras impostas pelas figuras de autoridade
para evitar a punição ou para obter recompensas pessoais.
Estádio 1 – Moralidade Heterónima: A criança, neste estádio, adopta
um ponto de vista egocêntrico. Para ela, o
que está correto é obedecer cegamente às regras e à autoridade, de forma a
evitar o castigo. As razões para fazer o que está certo é evitar a punição e os
castigos.
Estádio 2- Individualismo, Propósito e Troca
instrumental : Existe uma tendência para o egoísmo. Para a criança, o que está
certo é a satisfação das nossas necessidades e interesses. Nesta fase, a
criança reconhece que os outros também têm interesses. Ela entende que só se
devem fazer as coisas aos outros se os outros retribuírem o favor –
reciprocidade pragmática.
Nível II : Moralidade Convencional
Nível
correspondente à adolescência. Note-se que a maior parte das pessoas fica aqui,
não avança mais.
O sujeito
considera correto aquilo que está conforme e que respeita as regras, as
expectativas da sociedade. Reconhece-se com as pessoas que garantem as normas e
esforçam-se por cumprir as regras estabelecidas por outros, de forma a obter
louvor e reconhecimento pelo seu comportamento correcto.
Estádio 3 – Expectativas e relações
interpessoais mútuas e conformidade interpessoal: Neste
estádio, o sujeito tem em conta o que os outros pensam ou sentem. O adolescente
apresenta gratidão e apreço pelas autoridades e procura ser digno dessa
confiança, respeitando –as e reconhecendo a importância da reciprocidade e
tratando bem os outros porque espera que os outros também o tratem bem. Viver
de acordo com aquilo que os outros crêem de nós e fazer aquilo que os outros
supõem que nós façamos, é o que está correto.
Estádio 4 – Sistema e consciência social,
manutenção da lei e da ordem
Fazer o
seu dever na sociedade, apoiar a ordem social e manter o bem-estar da sociedade
ou do grupo. Cumprir os deveres com os quais se concordou. As leis devem ser
apoiadas, excepto em casos extremos em que entram em conflito com outros
deveres e direitos sociais estabelecidos. Contribuir para que sociedade, o grupo
ou a instituição sejam mantidos.
Manter em
funcionamento a instituição em funcionamento como um todos, o auto-respeito ou
a consciência compreendida como o cumprimento das obrigações definidas para si
próprio.
Nível III: Moralidade pós convencional,
Este nível, alcançável apenas por
uma minoria de adultos, já é avançado. Os indivíduos ligam-se a diversos
princípios morais, que podem mesmo prevalecer sobre figuras de autoridade, ou
mesmo sobre normas e valores da sociedade em que se encontram inseridos. Aliás,
o sujeito aceita as regras da sociedade pois normalmente estão implicadas nessas
regras alguns princípios morais com os quais o indivíduo concorda. Porém, se
houver conflito entre algum seu princípio (os princípios morais corporizam-se e
tornam-se individuais) e as normas da sociedade, prevalecerão os princípios
morais do sujeito.
Estádio 5 – Contrato social
Os deveres do indivíduo estão
definidos por meio de um contrato, como por exemplo uma Constituição. Todos
devem respeitar esses contratos, de modo a garantir o bem-estar de todos.
Assim, as atitudes morais devem
possuir sempre a finalidade de agradar á maioria ou de elevar o bem-estar da
sociedade. Apesar de a lei ganhar em caso de conflito entre esta e o sujeito,
admite-se neste estádio que as leis e normas não são algo que se vai verificar para sempre, pois resultaram de
reflexão, discussão e consenso de várias pessoas, e devido a algum factor
(revolução, passar dos anos, etc.) podem-se alterar. As normas e valores da
sociedade integram o contrato social que deve ser aceite livremente por todos,
mas sempre respeitado e que defenda
o seguinte:
- respeito pelos direitos fundamentais como o direito à vida e o
direito à liberdade
- utilização de processos democráticos para alterar as leis e melhorar
a sociedade
Este estádio afirma que certos valores e direitos devem ser sempre
defendidos em qualquer sociedade, independentemente das suas especificidades.
O mais importante do estádio 5 será que as decisões serão tomadas com
base nos interesses da maioria. Caso exista conflito entre as leis ou normas da
sociedade ou grupo e os interesses da maioria, a decisão do indivíduo
localizado neste estádio será sempre tomada pensando nos interesses da maioria.
Esta decisão deriva do fato de que nem sempre os valores de um grupo coincidem
com as suas normas ou leis, e desse modo nestas não deverão ser obedecidas.
Estádio 6
– Princípios éticos universais
Este estádio não é “aceite” por todos, pois há quem discorde da
inclusão dele, devido ao escasso número de pessoas nele se encontram. O
comportamento moral é controlado por um ideal interiorizado, que não depende
das reações dos outros, mas que respeita sempre princípios universais
(igualdade de direitos, dignidade e justiça).
Indivíduos no estádio 6 são raros,
muitas vezes valorizam os seus princípios mais do que a própria vida, muitas
vezes são vistos como encarnando o potencial humano máximo. Graças a isso, são
frequentemente martirizados pelos estádios mais baixos, envergonhados por verem
o potencial humano tão desenvolvido, comparado com os seus próprios níveis de
desenvolvimento, só parcialmente desenvolvidos (ex. Mohandas Gandhi, Jesus de
Nazareth, Gautamo Buddha). As questões que os regem podem ser: “O que é a
justiça para todos?”; “O que é que promoverá a vida, no seu máximo, para todos
os seres-vivos?”
Posto isto, podemos dizer que para o estádio 6, o certo é o que
obedece aos princípios éticos universais e sempre que respeitam esses
princípios, as leis ou os contratos e acordos sociais são válidos. A razão para
fazer o que está certo é que a pessoa reconhece a validade dos princípios e
procura cumpri-los.